Ser Xamã não é apenas botar uma pena na cabeça e ficar tocando bombo sob o efeito de alucinógenos. Mas, infelizmente, é essa a impressão que passa para o público leigo, que não viveu essa cultura e que não aprendeu na escola o contexto espiritual e social de uma época perdida há várias e várias gerações.
Um exemplo mais urbano e próximo do Xamã seria o padre da cidadezinha de interior: ele conhece praticamente todo mundo da cidade, não só de vista, mas os seus problemas e anseios (através do confessionário); é respeitado como líder espiritual, faz sermões onde analisa o rumo da cidade e aponta onde precisa melhorar, e também traz conforto e orientação espiritual para quem se sente perdido, desviado de seu grupo social. No caso de um Xamã verdadeiro, ele, além disso tudo, consulta os espíritos em busca de um norte para poder guiar seu povo, e cura para os enfermos. Aí entra, em seu contexto original, a Ayahuasca, o tabaco, o peiote e outras plantas de poder.
Para que não haja dúvidas, vamos analisar duas tribos que fazem uso tradicional do Ayahuasca:
Primeiro, os Yawanáwa.
...a ayahuasca é consumida tanto no processo de iniciação como nas cerimônias de cura ou de agressão. A execução das rezas com fins terapêuticos é feita em ritual celebrado à noite, quando as pessoas da aldeia já estão dormindo, de forma que acontece em ambiente restrito. A cerimônia pode ser realizada conjuntamente por um ou por vários xinaya. Normalmente, o doente não está presente ao ritual. Os xinaya, sob os efeitos da ayahuasca, cantam suas rezas sobre um pote cheio de uma bebida fermentada de mandioca (a caiçuma) que o paciente beberá depois.
É comum que, antes de ter decidido submeter-se à iniciação xamânica, a pessoa esteja familiarizada com as cerimônias, com certos conhecimentos e com algumas bebidas alucinógenas, em especial, a Ayahuasca. (...) Além disso, o iniciante deve reduzir no máximo suas relações sociais, evitando qualquer contato com as mulheres e isolando-se temporariamente na floresta, longe da aldeia. Ao mesmo tempo, começa a consumir Ayahuasca e tabaco diariamente, bem como passa a assistir sistematicamente às cerimônias de cura, durante as quais deve memorizar as rezas entoadas pelos outros xinaya e shuintia. O processo se completa com a superação de certas provas iniciatórias. (...) A memorização dos conhecimentos xamânicos requer sofrimento, e é através da abstinência alimentar e sexual, assim como das provas iniciáticas descritas, que esse estado ideal é alcançado. O iniciante deve chegar a um estado total de concentração e autocontrole para poder reter tal quantidade de saberes na memória. Ademais, a ingestão de substâncias alucinógenas - em particular, a Ayahuasca - exerce papel importante nesse processo de aprendizado das rezas e dos mitos. Dizem os Yawanáwa que, sob os efeitos dessa beberagem, o iniciando é capaz de visualizar mentalmente o conteúdo do narrado ou falado pelos xinaya que estão atuando em uma cerimônia e, assim, o conhece, memoriza e incorpora. Através dos estados alterados de consciência produzidos por estas substâncias o aprendiz entra em contato com o domínio dos yuxin, que transparece em mitos e rezas. O conhecimento deste meio é essencial à atividade xamanística, uma vez que o xamã, em qualquer de suas facetas, é mediador entre ambos os aspectos da realidade.
Agora, a tribo Harakmbet:
A principal função do Xamã é curar. E os espíritos das plantas possuem uma informação imprescindível que só pode ser captada por experts em interpretar o que acontece no "além". Uma vez que o Xamã "vê" o que deseja, através das substâncias de origem vegetal, ele as abandona paulatinamente e recorerá ao tabaco (paimba), que é a planta principal do Xamã. Qualquer Harakmbet, passada a iniciação, pode consumir drogas, mas só o Xamã capta a realidade diferente. É ele que consegue ver e interpretar os sinais do além e transformá-los em símbolos, desenhos ou mandalas que devem ser feitos em cima do corpo do paciente, e estudados por eles no sentido de permitir o diagnóstico e a cura das enfermidades para aquela pessoa, que pode estar numa certa planta medicinal que o Xamã intui ser a adequada para aquele caso.
Apesar do uso da Ayahuasca estar intimamente ligado à cura, ele é apenas a FERRAMENTA de acesso do Xamã a outros mundos, para que ELE vá em busca da cura. A deturpação de que a bebida SEJA a cura começou com os Xamãs da cidade. O antropólogo Jean-Pierre Chaumeil fala, em seu texto Curandeirismo do Amazonas, que o uso de alucinógenos no âmbito indígena parece essencialmente ligado a uma iniciação xamânica, já que, nas curas, o tabaco (fumado, mastigado ou bebido) é que assume papel preponderante.
Segundo os conceitos indígenas, os alucinógenos são entidades que "ensinam", mais do que atuam por si mesmas e para si mesmas. Os alucinógenos entraram paulatinamente na parafernália terapêutica dos Xamãs mestiços que atuam nas cidades, e, em consequência, retroativamente este uso se difundiu entre alguns Xamãs indígenas. A extensão dos alucinógenos a um âmbito de aplicação estritamente terapêutica (diagnóstico e cura) parece ser um fenômeno relativamente recente, se levados em conta os dados da etnografia indígena, que os associam mais a um modo específico de aprendizagem e conhecimento.
Cabe dizer que o uso de alucinógenos não é de uso reservado dos Xamãs. A maioria dos indivíduos, homens e mulheres, seja no meio indígena ou mestiço, podem viver esta experiência guiados por Xamãs treinados. Neste caso, as ingestões são orientadas no sentido de autocura ou de efeitos telepáticos. Em todo caso, as ingestões nunca são anárquicas ou de forma indiferente.
Agora eu pergunto: é o Xamã ou a Ayahuasca que "cura"?
Com que objetivo e contexto era usada originalmente a Ayahuasca? Fazer uma "viagem a passeio" ou acessar informações de "mais além" para ajudar aos necessitados?
O uso da Ayahuasca foi se deturpando com a modernidade, e virou um passatempo para a população cabocla da região Amazônica. Até que chegou Irineu.
A HISTÓRIA DO DAIME
Adaptado do site Santodaime.info
Descendente de escravos, Raimundo Irineu Serra deixou o Maranhão para trabalhar no Acre como seringueiro, nas regiões do Xapurí, Brasiléia e Sena Madureira. Também trabalhou como funcionário na Comissão de Limites na delimitação da fronteira do Acre com a Bolívia e o Peru. Foi na cidade de Cobija, na Bolívia (fronteira com o Acre, na cidade de Brasiléia) que Irineu, convidado por dois amigos a participar de uma sessão de Ayahuasca, ministrada por um caboclo peruano de nome D. Crescêncio Pisango, também conhecido por Huascar.
De primeiro Irineu não aceitou, mas depois pensou e disse: "Eu vou. Se for uma coisa boa vou levar pro meu Brasil, pois de coisa ruim o meu Brasil já está cheio". Da primeira e segunda vez que tomou a bebida nada sentiu, só na terceira é que chegaram as "mirações". Estava sentado numa roda de 12 pessoas quando D. Pisango se aproximou e "entrou" na cuia grande onde era servida a Ayahuasca, sendo percebido apenas por Irineu. O caboclo pediu que ele convidasse o grupo a olhar dentro da cuia e que dissessem o que estavam vendo. Responderam que viam apenas a bebida. Então o caboclo Pisango explicou ao Mestre Irineu que só ele tinha condições de trabalhar com aquela bebida e que ninguém mais conseguia ver o que ele via com a Ayahuasca.
Numa outra noite voltaram a tomar a infusão. Um amigo, Antônio, que estava no quarto, chamou Irineu, que olhava encantado para a lua, e disse:
- Raimundo, aqui tem uma senhora chamada Clara que quer falar com você.
- Por que ela não fala contigo mesmo?
- Não sei não, mas diz ter te acompanhado desde o Maranhão. Ela tem uma laranja na cabeça para lhe entregar. Fala que vai te procurar na próxima sessão.
E assim foi. Era uma quarta-feira duma noite linda de luar. Irineu se deitou na rede de modo a apreciar a lua e, pouco a pouco, a "força" da Ayahuasca foi chegando, intensificando as mirações e, neste momento, é que viu a lua se aproximando pra bem pertinho dele. Uma Senhora, sentada ao centro da lua com uma águia na cabeça em ponto de voar lhe disse:
- Quem tu achas que sou?
- Pra mim é uma Deusa.
- Tu tens coragem de me chamar de Satanás?
- Ave Maria, minha Senhora, de jeito nenhum.
- Você está pensando que sou uma princesa, mas não, eu sou a Rainha Universal.
- Tu achas que o que tu estás vendo agora alguém já viu?
- Acho que sim, minha senhora (Irineu julgava que outros tantos que já haviam bebido a ayahuasca também já podiam ter tido aquela visão).
- Tu estás enganado. O que vês agora, ninguém jamais viu, só tu. Eu vou te entregar este mundo para tu governar, mas isso não é agora, primeiro tens que te preparar. Agora que tu já é homem, tu vais trabalhar e vais ficar com teu cabresto assim bem curtinho. Vais ter uma preparação para ver se tu tens merecer verdadeiramente. Tu vais passar oito dias comendo só macaxeira (mandioca) cozida e insossa, com água e mais nada, nem ver e nem ouvir mulher alguma.
Irineu, no dia seguinte, se retirou para a mata com o propósito de cumprir as ordens da Rainha. Conta-se que no quarto dia ele foi tentado com várias visões, com intenção de lhe amedrontar. Os paus na sua frente criavam vida, parecia que estavam todos rindo dele, caboclinhos surgiam de todos os lados, fazendo contato com os animais que chegavam bem próximo. Com sua espingarda dava tiros para o alto, pois os estampidos o confortavam naquela situação. (Até hoje, nos trabalhos feitos na Doutrina do Santo Daime, se costuma soltar foguetes durante a sessão espiritual, para que seja lembrada aquela passagem da vida do Mestre Irineu).
Outro fato interessante que se conta é que, certo dia, Antônio Costa estava em casa, preparando a mandioca insossa do amigo, quando pensou em botar um pouquinho de sal, mas imediatamente mudou de idéia e quando, mais tarde, Irineu voltou das matas, disse a Antônio que viu que ele ia colocando sal na macaxeira, mas resolveu não pôr. Antônio se espantou com o amigo:
- Mas rapaz, como é que tu fez pra saber? Então, já sei que tu tá aprendendo.
No oitavo dia de iniciação nas matas, a Rainha voltou a aparecer para Irineu e lhe entregou a laranja como símbolo do globo universal. Ele pediu que o fizesse um curador e ela respondeu:
- Já está feito e tudo está em tuas mãos.
Também o advertiu de que teria muito trabalho com aquela missão, e que nada poderia tirar em proveito próprio (Assim como hoje o Daime não pode ser comercializado, pois desta forma estariam em desobediência às ordens da Rainha). Logo Irineu entendeu que aquela senhora era a Virgem Mãe Santíssima, a Virgem da Conceição, e que tudo aquilo que ele havia ouvido e visto não eram suficientes para ele ser (curador). Ele havia recebido sim aquela missão e a partir daí ele tinha que dar prova e se fazer ser.
Durante alguns anos, Irineu percorreu caminhos espirituais difíceis entre a dúvida e a certeza, a verdade e a mentira, pois quem anda nesta estrada sabe que uma linha muito fina separa estes princípios, o que é certo do que é errado. Mas a Virgem Soberana continuou a aparecer muitas outras vezes para Irineu lhe dando força, conforto e fé, e numa destas aparições foi revelado ao Mestre o nome da bebida. O verbo "dar" originou a palavra "Daime". Em alguns hinos da Doutrina se encontram as expressões "dai-me amor", "dai-me fé", "dai-me cura", pois quem toma Daime deve estar pronto a receber as dádivas vindas de Deus, contidas nesta bebida sagrada.
Também recebeu da Virgem o título de Chefe Império Juramidam, e os fundamentos do ritual do Santo Daime. A Mãe Divina o instruiu a cantar hinos que iria receber do Céu, que seriam o testamento de sua missão e estariam reunidos em um hinário ao qual ele chamou "O Cruzeiro". Mas Irineu era um homem muito simples e humilde e não se achava capaz de cantar. Até o dia em que a Rainha da Floresta lhe disse:
- Olha, vou te dar uns hinos e tu vais deixar de assobiar pra aprender a cantar.
- Ah! Faça isso não minha Senhora, que eu não canto nada.
- Mas eu ensino! Afirmou ela.
E como Irineu sempre contemplava a lua, Ela falou:
- Agora você vai cantar.
- Mas como? Insistiu.
- Abra a boca, não estou mandando?
Irineu obedeceu e deslanchou a cantar "Lua Branca", seu primeiro hino, onde também recordaria a primeira miração da Rainha.
Na década de 20, Irineu e os irmãos Costa fundaram um centro chamado Círculo de Regeneração e Fé (CRF), na cidade de Brasiléia, no Acre. Reuniram-se naquele lugar algumas pessoas que, apesar de poucas, chegaram a fundar uma associação. Alguns desentendimentos com Antônio Costa e outros integrantes fizeram Irineu deixar aquele centro, mudando-se para Sena Madureira e depois para Rio Branco. Em 1930, como tinha feito muitos conhecidos, doaram a ele uma colônia na Vila Ivonete, bairro rural próximo a Rio Branco. Foi quando Irineu deu início aos trabalhos públicos com o Daime. Nessa época Irineu foi perseguido, chegando mesmo a ser chamado na delegacia, porém nunca sendo preso. Resolveu então adentrar um pouco mais na floresta e foi nesta época que recebeu uma doação por parte do ex-governador Guiomar Santos, que lhe arranjou uma colocação chamada Espalhado, com uma colônia, a Custódio de Freitas. Neste lugar fundou o Centro de Iluminação Cristã Luz Universal (CICLU), a Igreja-Sede, e levantou também um cruzeiro de 5 metros de altura, todo em cimento armado.
No Alto Santo abrigou mais de quarenta famílias que trabalhavam em sistema de mutirão, muito comum no Acre. Viviam do que plantavam, conseguindo assim sustentar sua comunidade.
PÓS-IRINEU
Mestre Irineu faleceu no dia 6 de julho de 1971, deixando vários seguidores. Um deles se destacou dos demais: Sebastião Mota de Melo, o Padrinho Sebastião. Segundo o site, "Foi considerado o pai dos alternativos por ter acolhido mendigos, mochileiros, maconheiros sem rumo e desenganados em sua comunidade. Nunca teve preconceito contra ninguém e por isso foi muito incompreendido. Padrinho Sebastião chegou a ter problemas com a polícia, pois até traficante ele recebeu, acreditando na cura e encaminhando-os para o trabalho honesto, despertando a consciência espiritual e fazendo-os acreditar nas leis de Deus". Após sair do Alto Santo, Sebastião fundou 3 comunidades, mas fixou-se em definitivo no Céu de Mapiá, na cidade de Boca do Acre, um lugar de difícil acesso no meio da floresta. Coincidência ou não, as denúncias de associação do Ayahuasca com drogas ilícitas surgiram nas comunidades que seguem a linha de Sebastião.
O que podemos depreender disso tudo?
1 - Que as tribos indígenas usavam a Ayahuasca, em certas cerimônias, mas nada na antropologia sugere um uso indiscriminado ou mesmo regular da substância. Ou seja, mesmo na milenar cultura indígena seu uso é restrito, sob a supervisão do Xamã (que conhecia a todos) e a vida na tribo não girava em torno disso, sendo a Ayahuasca apenas uma ferramenta (que nem era tão importante quanto o tabaco!) no contexto religioso.
2 - Que a bebida não pode ser vendida, nem mesmo pra cobrir os custos de produção ou de transporte. Ou seja, numa instituição séria, você, visitante, não deveria pagar NADA pra tomar. Segundo o que ficou acordado (pelas principais instituições) no relatório final do GMT de 2006 (base do que foi liberado pelo CONAD), apenas os SÓCIOS arcam com as eventuais despesas, justamente pra de$encorajar esse "turismo" de gente que vai lá só pra dar uma "calibrada no nível de alucinógeno".
Me pergunto o que Mestre Irineu pensaria da conduta das doutrinas urbanas de hoje... Se ele, homem sério e íntegro (que, pelo que lemos, parece ter sido) aprovaria o uso ritual de maconha e cocaína, como tem - segundo denúncias e até apreensões da Polícia Federal - acontecido com certas denominações. Me pergunto também se ele deixaria o oba-oba de jovens descompromissados com a doutrina ir minando (por dentro e por fora) a reputação do que ele construiu ao longo de décadas. Onde está a instituição recomendada pelo GMT ao CONAD para representar as entidades religiosas, no sentido de impor controle social ao cumprimento dos princípios acordados? Onde estão os mecanismos de controle, também recomendado ao CONAD pelo mesmo GMT?
Só faço o que a Lei do meu país permite fazer
(Mestre Irineu)
O perigo da Ayahuasca é que ele pode servir como gatilho disparador de uma síndrome psicótica. Em pessoas "saudáveis", não causa problemas. Mas, o que é ser saudável psicologicamente no mundo de hoje? Vivemos num mundo cada vez mais neurotizante, vivemos relações familiares cada vez mais desintegradas, ironicamente com muito acesso a informação, mas com pouca COMUNICAÇÃO (especialmente dentro das famílias), e os psicólogos, psicanalistas e psiquiatras podem atestar as tendências da nossa sociedade melhor do que eu. Será que todos podem tomar a Ayahuasca?
A Ayahuasca é para todo mundo, mas nem todo mundo é para a Ayahuasca
(Padrinho Sebastião)
Como a doutrina saiu do contexto indígena pra se tornar essencialmente cristã (amalgamada ao espiritismo e umbanda), seria bom ter em mente os alertas de Jesus, em Mateus 7:
Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas, para não acontecer que as calquem aos pés e, voltando-se, vos despedacem
(Mat 7:6)
Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e poucos são os que a encontram
(Mat 7:13-14)
Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores
(Mat 7:15)
Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as põe em prática, será comparado a um homem prudente, que edificou a casa sobre a rocha
(Mat 7:24)
Há um mecanismo de controle dentro da própria Doutrina do Daime. Ele orienta as pessoas a, 3 dias antes de tomar o Daime, se abster de comer carne e fazer sexo. Mas aprendi aqui mesmo com os comentaristas que isso representa MAIS do que uma "limpeza" orgânica. Nesses 3 dias você deve procurar se limpar MENTALMENTE, canalizando suas energias e seus pensamentos para o alto, para uma experiência que é antes de tudo interna.
Por isso tenho uma sugestão para as entidades SÉRIAS que ministram Ayahuasca, e não sabem como controlar os visitantes sobre essa preparação pra bebida (como raios o padrinho vai saber se o cara transou, ou brigou no trânsito, ou em casa, no dia anterior?):
O RETIRO
O retiro é muito usado pelos budistas, pois a doutrina precisa de um ambiente tranquilo e isolado, para favorecer a meditação correta. Buda (Siddhartha) se isolou na floresta (olhaí) até conseguir a iluminação, e só depois, com o estado de plenitude alcançado, foi procurar ensiná-lo aos outros, nas cidades, nos campos... A idéia é que o estado meditativo seja conseguido até mesmo no trânsito caótico, mas como você vai ensinar alguém a correr sem antes saber andar?
É por isso que eu recomendaria ao neófito no Daime um retiro de 3 dias, num lugar afastado, sem celular, sem TV, onde a pessoa entra em contato com ela mesma, seus pensamentos, com a natureza, embarca (ainda que de forma limitada) no contexto original da Ayahuasca. E somente no fim do 3º dia tomaria o chá.
Vi num fórum o depoimento de uma pessoa que pegou dicas com um Xamã sobre a condução do Daime:
Eu vou te repassar a informação que me foi dada por um verdadeiro Xamã ao qual tive a sorte de conhecer 3 anos atrás. Pra resumir nossa conversa, vou colocar algumas questões que eu lembro para seu uso correto:
1. Restrito ao local e à cultura ancestral que sempre a usou, ou seja, nunca para urbanóides como nós;
2. Extrema disciplina de uso e guarda, extrema, nunca numa sociedade que usa dinheiro nas relações, só isso já contamina tudo;
3. O xamã deve conhecer a pessoa a tomar de longa data, ela e sua família (seus pais);
4. A beberagem deve ser produzida de forma customizada (ele não usou essa palavra), ou seja, pra cada indivíduo um preparado especial que pode conter os 2 princípios famosos e mais alguns pra deixar mais doce, ou mais amargo, ou etc... (mas esse etc não inclui santa porcaria nenhuma);
5. Vômitos e diarréia são péssimos sinais, quer dizer que a pessoa tomou a dose errada. No máximo, um enjôo e isto serve para que a pessoa se limite.
6. Deve ser consagrada.
7. Deve ter um objetivo muito específico, um trabalho individual, ou até coletivo, desde que totalmente orientado de forma rígida, militar
8. O xamã deve ser sábio, velho, experiente, vocacionado, tem que ter curriculum pra isso, sendo a sua autoridade respeitada e indiscutível entre todos da "tribo"
9. Pode ser utilizada para "turistas" (nós) desde que os procurem e com todo o rigor e preparação.
10. V. nunca pode falar de sua experiência com ninguém, é sua e individual, jamais fazer propaganda de capacidades. A "mágica" está em V. e só em V. Falar disso é perigoso, pode induzir outros ao erro. Só o Xamã pode falar disso.
A Ayahuasca abre as portas de dentro de você. Se há algum conflito, ele poderá ser exorcizado, ou exarcebado. Vai depender de COMO você vai lidar com isso! Por isso, concordo com o Maltz quando ele diz que o chá é um Boeing 747, mas nem todo mundo tem o manual pra pilotá-lo! Há perigos no Daime, assim como há perigos no desenvolvimento forçado da mediunidade dentro do Espiritismo, ou constrangendo crianças a receber o espírito santo nas Igrejas Evangélicas, ou na abertura dos Chakras e desenvolvimento forçado da Kundalini em cursinhos da Nova Era.
Os místicos e os esquizofrênicos encontram-se no mesmo oceano; enquanto os místicos nadam, os esquizofrênicos se afogam
(Ronald Laing; psiquiatra inglês)
Eurípedes (poeta grego) aponta a origem da loucura como decorrente de conflitos internos; o homem não seria conduzido fatalmente à loucura, senão por uma parcela de responsabilidade. Porém, cabe aos deuses roubar a razão.
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog (Saindo da Matrix).
"Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto.
Não acredite em nada do que eu escrever.
Acredite em você mesmo e no seu coração."
http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=09836
segunda-feira, 10 de maio de 2010
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