sexta-feira, 18 de abril de 2014

DIFERENCA ENTRE PEIA E MIRACAO NO USO DO CHA SAGRADO‏ AYAHUASCA - DAIME

GOSTEI MUITO DESSES 2 TEXTOS POIS EXPLICA COM CLAREZA SOBRE A PEIA E A MIRACAO DENTRO DE UM RITUAL COM O CHA SAGRADO.
 
O que sao as miracoes?
 
São as visões espirituais conseguidas quase sempre em estados de consciência expandida durante os trabalhos com a Ayahuasca.
Como toda contemplação espiritual ocorre pelo fenômeno da SINTONIA ENTRE O OBSERVADOR E O OBSERVADO, você se torna o protagonista de uma ação que se passa num mundo extremamente “real, encantado, místico, mágico e sagrado” em que tudo fica como é: junto, ligado e único.
 
Mas as mirações não fogem da LEI ESPIRITUAL QUE DETERMINA QUE VOCÊ SÓ CONTEMPLARÁ O QUE O SEU ESPÍRITO PUDER COMPREENDER. Não há miração sem propósito. Por exemplo, a miração de um acidente servirá para tentar evitá-lo. Isto porque o que você vivenciar nas mirações influenciarão fortemente nas situações dos planos físico, mental e espiritual.
Durante esse estado ATEMPORAL sua percepção ficará ampliada por estar com menor influência que a matéria exerce sobre os seus sentidos.
A PERCEPÇÃO NA MIRAÇÃO É PRÓXIMA A DE UM ESPÍRITO DESENCARNADO.
 
O QUE VOCÊ VAI MIRAR?
 
Como os rituais que usam a Ayahuasca são ESCOLAS INICIÁTICAS, é o tipo de trabalho que determinará o que você vai mirar.
Cada espírito possui UM PESO ESPECÍFICO que o nivela com o plano espiritual afim em que se manifeste. Você poderá mirar ensinamentos a serem aplicados do mundo físico e no seu cotidiano. Mas para você sair do nível físico você terá que SUBIR ou DESCER vibracionalmente.
 
Você poderá oscilar entre AS SETE ESFERAS CONCÊNTRICAS que constituem o planeta Terra.
 
SÃO QUATRO ESFERAS SUPERIORES QUE ESTÃO ACIMA DO FÍSICO EM TORNO DA TERRA EM DIREÇÃO AO ESPAÇO SIDERAL (Estas esferas são chamadas de: “Umbral”, “Arte, Cultura e Ciência”, “Amor Universal” e “Diretrizes do Planeta”).
 
SÃO DUAS ESFERAS INFERIORES NO INTERIOR DA TERRA (Estas esferas são chamadas de “Trevas” e “Abismo”).
A Ayahuasca oscilará com seu peso vibracional para situá-lo na esfera em que você puder alcançar COM ELE para seu aprendizado.
 
Você poderá viver a “PEIA”. Você sofrerá menos se confiar e não resistir.
 
HÁ MAIS SOFRIMENTO EM ALCANÇAR AS ESFERAS SUPERIORES DO QUE AS ESFERAS INFERIORES EM QUE JÁ ESTAGIAMOS.
 
COMO A MIRAÇÃO COMEÇA?
 
Antes de atingir um nível adjacente, você atravessará por seus próprios planos  conscienciais, vivenciando sensações corpóreas características deles, que são:

- Sensação corporal de “pressão mediunizante” causado pela força do cipó.
- Diagramas visuais fragmentados (OU FRACTAIS) causado pela “luz” da folha.
- Passagem pelo seu inconsciente pessoal (sonhos, devaneios, pensamentos desconexos e desejos).
- Passagem pelo inconsciente coletivo de “Jung”.
Mas se julgar o melhor, a Ayahuasca poderá pular etapas ou inverter as seqüências.
 
POR QUE VOCÊ MIRA?
 
Você mira quando já tem o centro de força da dupla visão em desenvolvimento ou desenvolvido.
 
Mas para a Ayahuasca, o mais importante não é se o aprendizado virá por miração ou não, mas como obter o melhor entendimento para você.
 
Na miração, seus centros de força ficam mais ativos, seu peso espiritual pode aumentar ou diminuir e você entrará em contato com seres de mesmo teor espiritual que você conseguir alcançar na miração.
Com a assistência da Ayahuasca, você poderá ir muito mais alto ou mais baixo vibracionalmente do que você conseguiria com seus próprios recursos.   
  
No estado de miração, VOCÊ ATUA NO MUNDO DAS CAUSAS, ONDE TUDO É VIVO, VIBRANTE, MODELADOR E REPARADOR. Você passa a atuar no mundo espiritual,  contíguo ao nosso, onde tudo se origina e afeta você diretamente.
 
A miração é um ESTADO DE SONHAR DESPERTO COM EXTREMA LUCIDEZ, daí a facilidade que você encontrará em receber instruções desde aspectos práticos da sua vida física até intrincadas questões espirituais.
 
Neste estado provisório de ALMA EMANCIAPADA, as situações ATEMPORAIS lhe serão mostradas em busca de uma solução pelo ENTENDIMENTO.
 
Mesmo que você descreia das situações, elas acontecerão conforme ACERTADO NO PLANO ASTRAL, por isso é comum se dizer que o que se resolve na miração é transposto e realizado no mundo físico.
Como as lições são para a alma, a Ayahuasca “ultrapassa” a limitação da mente e se comunica com o seu espírito pela LINGUAGEM UNIVERSAL DOS SÍMBOLOS.
 
POR QUE VOCÊ NÃO MIRA?
Por uma série de fatores:
- Se o seu centro de força da dupla visão ainda não estiver desenvolvido ou se não está em desenvolvimento,
- Se você tiver algum bloqueio (orgânico, mental ou espiritual),
- Se a Ayahuasca julgar não haver necessidade,
- Se a Ayahuasca quiser desenvolver sua perseverança.
A miração também é uma forma de poder. Não se esqueça de que os poderes estão a  serviço da sua consciência.
Buscar o poder antes do saber é inverter a ordem ritualística da Ayahuasca, e isto ela não permitirá.
Deixe que a Ayahuasca avalie sua necessidade de miração, porque ela sabe mais das suas necessidades do que você.
 
O QUE AFETA A MIRAÇÃO?
 
Diversos fatores:
– O local onde o trabalho é realizado,
– O grupo presente no trabalho,
– A origem da Ayahuasca (quem o fez),
– O grau (a concentração) da Ayahuasca,
– A forma de atuação dos Dirigentes,
– O nível espiritual de quem estiver mirando, e
– A “qualidade”(circunstâncias) do feitio.
 
Este último item está estritamente relacionado à qualidade da folha utilizada na Ayahuasca, já que A CLAREZA DA MIRAÇÃO TAMBÉM DEPENDERÁ DA QUALIDADE DA FOLHA USADA NA AYAHUASCA.
Com todas estas variantes, se COMPROVA QUE EM REUNIÕES ESPIRITUALMENTE GUARNECIDAS PELOS ESPÍRITOS DE LUZ, O FATOR ESPIRITUAL PREVALECERÁ SOBRE O QUÍMICO.
 
O QUE VOCÊ MIRA?
 
Quatro tipos de mirações:
– AS COTIDIANAS: São relacionadas com a mente, com a ESFERA FÍSICA e que conterão questões sociais, morais e éticas do nosso dia a dia.
– AS ARQUETÍPICAS: São representadas por símbolos universais como serpentes, águias, espadas, castelos, cálices e seres míticos ou mitológicos que se relacionam ao seu inconsciente pessoal ou ao inconsciente coletivo de “Jung”*. Estas mirações são patrocinadas pelas esferas do “Umbral”ou da “Arte, Cultura e Ciência”.
– AS REVELADORAS: São aquelas relacionadas com estados vibracionais sutis e aos chamados “seres divinos”que se valem de todas as formas de entendimento ou cura: sons, cores, perfumes, corpos luminosos, imagens, figuras geométricas, símbolos, raios cósmicos, campos de força, diversas técnicas e dispositivas espirituais que ainda são desconhecidos para nós.
Estas mirações estão relacionadas à esfera do “Amor Universal”.
– AS DAS DIRETRIZES ESPIRITUAIS: Onde você se integra com A ESSÊNCIA DIVINA em estado de não mente para esclarecimentos que visam acelerar seu progresso espiritual e do seu grupo.
Estas mirações estão relacionadas à esfera “Diretrizes do Planeta”.
 
HÁ RELAÇÃO ENTRE O DIRIGENTE E AS MIRAÇÕES?
 
Sim.
É que cada dirigente tem sua própria linha de desenvolvimento e imprimirá estas características nos trabalhos.
O DIRIGENTE, QUASE SEMPRE, É O “TETO”ESPIRITUAL DOS TRABALHOS, daí a importância de sua conduta moral.
UM DIRIGENTE ATRAIRÁ SEMPRE SERES IGUAIS A ELE PARA SEU GRUPO QUE FORTALECERÁ A SUA CONDUTA!
Um bom dirigente será sempre um FACILITADOR.
Trabalho com Ayahuasca sem um bom dirigente é semelhante a barco sem rumo. Poderá ir para qualquer lugar.
É inverídica a afirmação de que um dirigente SABE O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM CADA UM DOS PARTICIPANTES NA REUNIÃO.
A Ayahuasca instruirá o dirigente de como está o trabalho NO GERAL, e poderá intuí-lo para auxilio de alguns participantes.
 
VOCÊ PODE COMENTAR SUAS MIRAÇÕES?
 
Sim.
Mas só com quem puder analisá-las para obter uma abrangência dos seus significados que só uma pessoa experiente pode conhecer.
Preferentemente, converse com o dirigente dos seus trabalhos. Por ser um orientador é que se diz na Ayahuasca que “neste caminho, não se anda sem padrinho”.
Mas não endeuse o seu dirigente. Se ele fosse alma superior, não estaria aqui.
Os dirigentes são sempre almas falidas e altamente comprometidas com o seu progresso!
Guardar uma miração para si pode trazer uma interpretação errada.
NÃO QUERER CONTAR PODE SER UMA FORMA REFINADA DE EGOÍSMO ESPIRITUALIZADO POR VOCÊ SUPOR QUE RECEBEU ALGO MUITO ESPECIAL POR SER ALGUÉM MELHOR QUE OS OUTROS COMPONENTES DO SEU GRUPO! PURA ILUSÃO!
HÁ MIRAÇÕES QUE SÃO MUITO ASSEMELHADAS COM PESSOAS DIFERENTES PORQUE REPRESENTAM A MESMA LIÇÃO.
É CONFORTANTE SABER QUE O QUE VOCÊ ESTIVER VIVENDO NA SUA MIRAÇÃO É NATURAL, JÁ OCORRIDO COM OUTRAS PESSOAS E O CONFORTARÁ NA SUA VEZ.
Um bom teste de humildade será você comentar uma miração especial com naturalidade. Será semelhante a um embaixador que visitou um país desenvolvido mas que ainda não mereceu morar nele.
 
POR QUE AS PESSOAS NÃO COMENTAM SUAS MIRAÇÕES?
 
Não comentam porque não têm o que comentar e se prevalecem desta regra  ultrapassada.
Estamos na era da comunicação, com inúmeras terapias holísticas, com estudos espiritualistas e paranormais, com a Caótica e a Física Quântica e as pessoas insistem em se conservar na era medieval?
Os trabalhos com Ayahuasca são do tipo UNIVERSIDADE DA ALMA.
Ora, é insano, tolo e perigoso colocarmos um garoto do jardim de infância numa Universidade e deixar que ele vá aprendendo por si mesmo!
Há quem argumente que as mirações não devem ser comentadas porque todos nós estamos na mesma escola, mas temos graus diferentes.
Isto é verdade, mas toda boa escola possui UM BOM PROFESSOR.
Numa mesma classe de mesmo grau, sempre haverá diferentes níveis de entendimento. Se o professor se basear nesta suposição, nunca esclarecerá a lição ensinada!
O BOM PROFESSOR NIVELARÁ A EXPLICAÇÃO DE FORMA QUE TODOS ENTENDAM CONFORME O NÍVEL QUE POSSUAM.
 
POR QUE OS PIONEIROS PEDIAM QUE AS MIRAÇÕES NÃO FOSSEM CONTADAS?
 
Porque os rituais nasceram entre pessoas simples e humildes e numa época com forte acento cultural e de pouco entendimento espiritual.
Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita já dizia: ANTES REJETIAR MIL VERDADES DO QUE ACEITAR UMA SÓ MENTIRA!
Ao que parecem, os pioneiros seguiam a mesma regra, ao invés de interpretar as mirações erroneamente, achavam melhor não interpretá-las!
A época em que vivemos é absurdamente diferente da época dos pioneiros.
Hoje talvez eles dissessem: - ANALISAR MIL MENTIRAS PARA NÃO PERDER UMA SÓ VERDADE!
 
POR QUE AS MIRAÇÕES SÃO SIMBÓLICAS E ATEMPORAIS?
 
Porque as mirações são LIÇÕES PARA SUA ALMA e não para a sua mente. A mente é um acúmulo de nossas experiências e nada sabe sobre as mirações.
 
POR QUE SÃO SIMBÓLICAS?
 
Porque SÃO RECORDAÇÕES de experiências em tempos imemoriais desde quando ainda nem pensávamos e nem tínhamos mente! Por isso, é que as mirações usam a única linguagem que sempre existiu: A LINGUAGEM UNIVERSAL DOS SÍMBOLOS!
 
POR QUE SÃO ATEMPORAIS?
 
Porque provêem da onisciência divina que tudo sabe e que está no AQUI E AGORA e não se prende ao tempo.
 
COMO SABER O QUE PODE SER OU NÃO SER CONTADO?
 
A Ayahuasca diz!
 
CONCLUSÃO:
 
CUIDADO COM AS MIRAÇÕES: VOCÊ NÃO PROFANARÁ IMPUNEMENTE O QUE PERTENCER A TODOS, NEM PROFANARÁ IMPUNEMENTE O QUE NÃO PUDER SER CONTADO.
 
É contrário à sua evolução, você arquivar o que PODE ser divulgado por julgar ser uma experiência sua e exclusiva. Ela é pessoal, mas ou provém do inconsciente coletivo de  Jung ou da fonte comum super consciente que é Deus e pertence a todos.
 
É contrário à evolução você banalizar o que NÃO PODE ser divulgado ou adulterar um fato de origem espiritual.
 
As mirações exigirão de você muito discernimento para entendê-las porque você não está muito familiarizado com a linguagem simbólica universal , e situações atemporais com que os seres ascencionados se comunicam com você.
 
É preciso vigiar o EGO, que acha saber de tudo, para que não entre na estória, se espiritualize e aí nos tornemos, reis, rainhas, príncipes, princesas, figuras estóicas e mártires.
SEREMOS TODOS, MENOS NÓS MESMOS!
 
TODOS OS MESTRES E AVATARES, NUNCA NEGARAM ESCLARECER AOS SEUS DISCÍPULOS COMO ELES PODIAM ENTENDER...
O Cristo Planetário, através de seu médium Jesus, nos ensinou leis e verdades que podiam ser entendidas há dois mil anos e que até hoje nos fazem pensar!
Afinal, o caminho da Ayahuasca é do autoconhecimento, o conhecimento por dentro, uma versão moderna do “conhece a ti mesmo”.
E numa escola de conhecimento, mais conhecer é avançar!
Guardar conhecimento, é hermetizar a liberdade e aprisionar as consciências!
Deixemos isso para os políticos! O nosso caso é cuidar da LUZ QUE NÃO DEVER SER GUARDADA DEBAIXO DO ALQUEIRE...
 
E não se esqueça!
 
Mirar é importante! Mas, mais importante é ser a própria miração!
 
É fazer da miração, um agente transformador de sua consciência.
 
E que Deus nos ajude!
 
 
 
 PONHA EM PRATICA  OS ENSINAMENTOS E ACESSE A LUZ
 
 
 
 
 
  
:
 
A Peia do Daime
 
 
Há algo comum às diferentes tradições ayahuasqueiras – e a vivência do ayahuasqueiro - que é a experiência de levar peia. 
Oposto da “miração”, ou – na percepção de alguns - caminho quase obrigatório para alcançar a miração, a “peia” significa os possíveis efeitos “dolorosos” do daime. Enquanto a miração leva o individuo à “revelação” e ao êxtase, a “peia” (expressão usada aqui como sinônimo de surra, castigo) provoca grande mal-estar físico e psíquico. Uma definição da “peia”:  
“As pessoas, no desenrolar do trabalho, atravessam passagens difíceis, que podem ir desde náuseas, mal-estar generalizado, vômito, diarréia, como sensações de depressão e angustia intensas, resultantes da revivência das coisas que ela própria considerava erradas. as causas espirituais dos erros, das falhas de caráter ou mesmo, das doenças físicas.”[2]
 
Assim define Goulart a este fenômeno:
 
“A ‘peia’ refere-se a uma espécie de castigo aplicado pelo Daime ao sujeito (...) o chá do Santo Daime é visto por estes religiosos como um ‘ser divino’ que possui vontade própria. A ‘peia’ pode se expressar de várias maneiras. No sentido mais imediato ela significa uma ‘surra’, em geral sentida por aquele que, durante os rituais, ingere o chá. A surra pode implicar num excesso de vômitos, numa crise de diarréia, ou então em sensações emocionais desagradáveis. A ‘peia’ diz respeito a uma situação mais ampla, ligada a trajetória pessoal do indivíduo. Assim, ela pode ocorrer fora dos rituais da doutrina, aludindo a um período da vida do sujeito”.[3]
 
Sendo inerente a todos ou quase todos daimistas (ayahuasqueiros), a peia adquire múltiplos significados. Okamoto da Silva, que trata do tema em sua dissertação de mestrado, enumera várias de suas características. Segundo ele, a peia:
 
1. É parte integrante e quase sempre presente nos rituais e a qual todos estão sujeitos;
2. é um castigo ou disciplina aplicada "pelo daime" em decorrência de uma conduta inadequada, expressa por uma "falha moral" ou desconhecimento dessa falha;
3. é conseqüência da desobediência à instruções recebidas “do astral";
4. se manifesta como um descontrole sobre os efeitos da bebida;
5. proporciona uma "limpeza" física, mental e emocional. É natural a ocorrência de vômitos e outros efeitos purgativos;
6. é vista como benéfica, no sentido de conscientizar o sujeito sobre falhas e erros cometidos, e sobre as formas de corrigir essas deficiências;
7. auxilia na interpretação e dá significado a infortúnios ou dificuldades vivenciadas pelos adeptos em suas vidas.[4]
 
Para além da possibilidade do ayahuasqueiro levar peia nos rituais mágico-religiosos dos quais participa, existe algo que podemos designar como uma “cultura da peia” entre certas linhas ayahuasqueiras. O antropólogo Edward MacRae, fazendo a etnografia de uma dessas linhas[5] ayahuasqueira, assim considera:
 
“Para os daimistas, o mundo dos espíritos é cheio de conflitos que extravasam o plano físico, onde os espíritos precisam se materializar para estabelecer alianças. Há assim uma constante interação entre o mundo espiritual e o físico. Estes dois mundos, apesar de serem duas dimensões diferentes, seriam indivisíveis no cosmos e mutuamente dependentes.
Os trabalhos no astral são concebidos como guerras ou batalhas contra a fraqueza, a impureza, a dúvida ou a doença.”[6]
 
Continuando, MacRae considera que alguns participantes, devido ao atributo de mediunidade latente ou arquétipos mentais, no decorrer das sessões travam verdadeiras “guerras” astrais entre as “forças do bem” e do “mal”, “mal” este manifestado através de pensamentos negativos, obsessões, surtos repentinos de paranóia etc. Estes adeptos travam dificílimas batalhas contra “demônios” presentes no seu “eu inferior” ou na “corrente” (acreditando que foi trazido por membros do grupo ali reunido), e o trabalho na sessão levará o bem a triunfar.
 
Assim, sendo considerado uma “guerra astral” o ato de tomar daime ritualisticamente, não importando como seja... por exemplo, mesmo num ritual festivo de bailado, tomar daime será sempre – ou quase sempre - uma batalha, uma peia, a conseqüência do uso da beberagem ritualizada.
 
É por essas e outras que essa bebida feita do cipó e da folha já foi definida como: “ayahuasca, da agonia ao êxtase”.
 
Portanto, devido ao risco da “peia” (efeitos dolorosos da ingestão da ayahuasca), são recomendados previamente que o usuário evite o consumo de bebidas alcoólicas e outras substâncias, assim como são feitas recomendações alimentares para os neófitos (recomendação de uma alimentação leve antes do trabalho); e recomendação de abstinência sexual para todos. Indivíduos que apresentem sinais de doenças mentais congênitas devem evitar tomar o daime.
 
Túlio Cícero Viana, com sua inspirada verve, assim descreve certo episódio de peia disciplinar:
 
“Padrinho (Sebastião) falou que tomaríamos um Daime de dez anos de idade feito pelo Mestre Irineu. No dia da concentração, fomos convocados juntos com outras pessoas escolhidas, pois era só um litro daquele poderoso Daime. Sei que tomei minha dose e sentei numa cadeira, fechando os olhos para esperar a viagem. Escutei uma ventania pesada, ela vinha se aproximando. Ouvi as janelas do templo se abrindo, cachorros latindo, gatos emitindo um som raro. Pensei: “Isto é só na minha cabeça”. Abri os olhos e me assustei quando vi que realmente aquilo acontecia, do meu lado tinha um gato que sofria uns ataques esquisitos, enquanto vomitava. Tornei a fechar os olhos, percebi uma imensa legião de espíritos perdidos que provocavam todos aqueles desmandos. Antes não acreditava nestas coisas, mas diante daquela realidade estava abismado. Eles açoitavam o templo em todas direções, a sensação é que ele podia desabar. Mantinha-me firme grudado na cadeira. Aprontaram tanto e foram indo embora, até voltar a tranqüilidade. Então uma fogueira se acendeu dentro de mim, esquentava minha cabeça, dando-me a sensação de que meu cérebro derretia. Espiritualmente enxergava meu cérebro derretido como um líquido dourado, ele escorria por caminhos infinitos espalhando cores por todos os lados. Pensei; “Estou morrendo!” Quando me dei conta de que ainda permanecia vivo, estava na maior sessão de vômitos, tombado na cadeira com a cabeça entre as pernas.
... até Padrinho dar por encerrada a concentração (...) Dácio veio, me deu um abraço e me disse ao ouvido: “Hoje eu vi o Mestre Irineu (...) Ele estava muito bravo e me chicoteou com um enorme jagube...
... Mesmo assim, Dácio sentia-se muito orgulhoso de vê-lo pessoalmente lhe disciplinando”.[7]
 
Nesse depoimento, o castigo é considerado método de disciplina. A planta maestra, "o professor dos professores", ensina também através da peia. 
 
Lembremos de Jesus Cristo que, investido de um chicote de cipó, chegou expulsando os vendilhões do templo;[8] e o Apóstolo Paulo pergunta: “que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?”[9]
 
E qual é a maior das peias? Os irmãos do Norte costumam dizer que a maior das peias é tomar daime e não mirar. 
 
 
 ana. Professor-Adjunto do DCHF-UEFS, na Bahia.
[2] POLARI DE ALVERGA, Alex. O livro das mirações. Uma viagem ao Santo Daime. 2 ed. Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1995, p.87-88.
[3] GOULART , S. L. As raízes culturais do Santo Daime. São Paulo: Dissertação de mestrado defendida na FFLCH-USP, 1996. p. 42,43 apud SILVA, Leandro Okamoto da. Marachimbé chegou foi para apurar Estudo sobre o castigo simbólico, ou peia, no culto do Santo Daime São Paulo: Dissertação de mestrado defendida na PUC-SP, 2004, p. 93.
[4] SILVA, Leandro Okamoto da. Ibidem, p. 94.
[5] A linha daimista designada “linha do Padrinho Sebastião.
[6] MACRAE, Edward. Guiado pela lua. São Paulo: Brasiliense, 1992, p. 70.
[7] VIANA, Túlio Cícero. O consagrado defensor. Belo Horizonte: Líttera Maciel Ltda, 1997, p. 102-103.
[8] MATEUS 21:12; Hino nº 68, Doutrina do Cipó, de Alex Polari.
[9] I Coríntios 4: 21.
 

Um comentário:

Julio da Mata disse...

Solicitaria aos amigos que incluíssem no texto sobre As Mirações a autoria de Julio da Mata.

Grato,

Julio da Mata